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Artigo de opinião

Energia: onde tudo começa e onde tudo pode acabar

Mário Rio Carvalho, Vice-Presidente da Direção da ANEME

24/02/2025
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Tem sido um tema recorrente na agenda da UE, dos países europeus, das empresas e de quem, como a ANEME, representa os seus interesses: a energia.

A transição energética e o consenso mais ou menos generalizado, entre pessoas razoáveis, de que ou se faz uma transição energética nos próximos anos, com decisão e razoabilidade, ou os nossos filhos e netos terão vida difícil nas próximas décadas, representa um investimento, um processo e mais que tudo um compromisso comum que tarda em acontecer. Pelo contrário, a sociedade anónima, a sociedade das pessoas normais, questiona todos os dias os efeitos, por vezes devastadores, na economia de decisões políticas precipitadas.

Não pretendendo questionar essas decisões por parte dos países europeus, inclusive de Portugal, interrogo-me é sobre como pode ser feita esta transição sem destruir o que resta da atividade industrial na Europa e em particular em Portugal. Refiro-me apenas à indústria porque, noutros setores da economia - mobilidade, agricultura ou outros -, as questões são igualmente críticas.

O processo de transição energética é longo e tecnicamente muito complexo. São inúmeras as questões que se levantam - da produção, à distribuição, aos montantes ‘astronómicos’ de investimento, ao processo de ‘phasing out’ dos sistemas e tecnologias atuais e finalmente ao custo direto sobre o consumidor industrial de todo este sistema.

Do ponto de vista do industrial, ou mais prosaicamente do ponto de vista de um sócio da ANEME, as grandes questões que, todos os dias, se colocam são: Quanto é que isto nos vai pesar em custos diretos e indiretos? Durante quanto tempo? Vamos aguentar este impacto?

O contexto industrial europeu é, como agora se diz, muito desafiante.

De Adam Smith sabemos que a escassez de mão de obra conduz inevitavelmente ao aumento do seu custo.

Do contexto político sabemos que a imigração, ou seja, a importação de mão de obra mais ou menos especializada e qualificada, é o ‘tema quente’ que a todos politicamente aproveita, mas que é, já hoje, uma inevitabilidade. Acredito que não exista em Portugal uma unidade industrial que não tenha colaboradores oriundos de outros países, tal é a escassez de mão de obra nacional.

Do quadro regulatório e fiscal sabemos que o contexto não é muito amigo das empresas, para dizer o mínimo, e que chegar ao fim do ano com resultados que permitam remunerar o acionista (que fez o investimento e assume o risco), melhorar as condições dos trabalhadores e reinvestir para crescer é um desafio diário, nem sempre conseguido.

Do acesso ao capital, sabemos da fragilidade e falta de dimensão e robustez do sistema financeiro, tanto no acesso ao financiamento bancário como a outras formas como o capital de risco. O investimento industrial nas áreas em que nos movimentamos não é o mais ‘sexy’ para os investidores, pelo menos por agora.

Se a tudo isto juntarmos a ‘espuma dos dias’ da Europa - em guerra, em reconfiguração energética e a questionar como será a relação futura com o parceiro americano - encontramos um quadro aparentemente pouco animador.

Há ainda um outro fator, o que mais interessa para o tema deste artigo, o custo da energia.

Por mais que se ‘ponha água na fervura’ e se torçam os números, a UE não compara bem com os seus concorrentes mundiais, e Portugal não compara bem com a sua concorrência no quadro europeu.

O avanço que a UE leva na transição energética face a todas as outras grandes potências económicas é certamente um enorme avanço civilizacional (que infelizmente não chegará se todos os outros países não fizerem a sua parte) e deve encher-nos de orgulho.

Se este processo impactar diretamente na economia real, isto é, for pago pelas empresas consumidoras, o efeito será, ou já é, desastroso. O assunto é ainda mais sério se pensarmos nas indústrias, que são tipicamente consumidores intensivos.

Chegados aqui, e porque se buscam soluções para a competitividade da indústria metalomecânica, retomo algumas das questões que anteriormente referi sobre a transição energética porventura numa perspetiva mais otimista.

O que se está a passar na Europa, com a guerra na Ucrânia, teve pelo menos a pequena, mas significativa, vantagem de fazer despertar alguns países para três questões fundamentais:

  • Que devem assegurar internamente uma muito significativa cobertura das suas necessidades energéticas;
  • Que devem assegurar um ‘mix’ energético muito mais diversificado e equilibrado entre as diversas fontes de energia, incluindo algumas estigmatizadas como a nuclear;
  • Que a transição poderá necessitar de passos intermédios, com a utilização de combustíveis como o gás natural, com sistemas associados de captura de carbono.

A estas acrescentaria a absoluta necessidade de o espaço europeu ter custos de energia competitivos para a sua indústria que possam competir com os grandes blocos económicos existentes e emergentes.

Para se industrializar a Europa ou, pelo menos, para manter vivas as indústrias atuais, é vital que o espaço europeu seja muito competitivo ao nível dos seus custos energéticos. Se assim não for não haverá investidores europeus, ou outros, que aceitem correr riscos na Europa com fatores de contexto penalizadores e um enquadramento regulatório penoso.

Um pacote de medidas que inclua o apoio à resiliência energética das empresas, isto é, à utilização de energias mais limpas a preços que sejam competitivos, à reconversão industrial em condições financeiras viáveis, ao estabelecimento de comunidades industriais que invistam em conjunto em geração de energia e que, por isso, possam beneficiar de, por exemplo, condições fiscais mais favoráveis, são exemplos de medidas de carácter publico que tracionam a transição e incentivam a competitividade.

A ANEME entende a questão energética como decisiva para o futuro dos seus associados e do setor em que se inserem. A agenda da sua direção inclui iniciativas junto de entidades públicas nacionais e europeias no sentido de encontrar soluções de competitividade para o nosso setor. Não vai bastar aos decisores políticos definirem como prioridade a reindustrialização do espaço europeu, é necessário que as decisões práticas, que impactam na economia, sejam alinhadas com as opções políticas.

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