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Entrevista com Jorge Aguiar, CEO da Adira

“Queremos mobilizar a indústria para o fabrico aditivo”

Luísa Santos05/05/2021

Com mais de 60 anos de experiência no fabrico de equipamentos para processamento de chapa metálica, a Adira renova-se e aposta num mercado em ascensão: a fabricação aditiva. Mas, ao invés de fazer o que já foi feito, opta por inovar. Com a colaboração do Fraunhofer ILT, a empresa portuguesa desenvolveu uma tecnologia própria e, em plena pandemia de Covid-19, lançou a maior máquina de impressão 3D de metais do mundo. Nesta entrevista, Jorge Aguiar, CEO da Adira, explica-nos o que levou a empresa a investir nesta área de negócio.

Jorge Aguiar, CEO da Adira
Jorge Aguiar, CEO da Adira.

A Adira anunciou, no final de 2020, o lançamento da maior máquina de fabrico aditivo do mundo. O que vos levou a investir neste mercado?

O investimento começou em 2016, com o desenvolvimento do primeiro demonstrador de uma tecnologia completamente disruptiva para o fabrico aditivo. Grande parte desse desenvolvimento foi feito dentro de portas por equipas multidisciplinares, que se alavancaram no know-how da Adira em desenvolvimento e produção de máquinas de corte por laser. Naturalmente, também contamos com o apoio de parceiros externos. O Fraunhofer ILT tem-nos acompanhado desde o início e é hoje um parceiro fulcral no desenvolvimento colaborativo da tecnologia da Adira.

O lançamento comercial da Add Creator foi apenas o culminar de todo o processo de desenvolvimento e industrialização da tecnologia TLM.

A vossa máquina foi especialmente desenhada para impressão de peças de grandes dimensões. Pode dar-nos exemplos de aplicações?

O equipamento AM da Adira permite o fabrico de peças metálicas pelo processo de fusão em cama de pó. Há toda uma variedade de processos de fabrico aditivo em crescimento, mas este é claramente o processo de eleição, não só por ser o mais maduro e presente na indústria, mas também por ser o que permite melhor qualidade, precisão e complexidade das peças que é capaz de produzir.

A liberdade no design da geometria que pode ser fabricada cria aplicações para peças de alta performance, por exemplo peças que usam canais de arrefecimento que não têm outra forma de ser produzidas. Além disso, esta tecnologia permite reduzir o número de peças e de operações de montagem, uma vez que o fabrico é todo feito numa peça única. A possibilidade de realizar modificações nos desenhos das peças até pouco tempo antes do início do fabrico, traduz-se numa elevada flexibilidade e 'lead times' extremamente curtos em aplicações destinadas a prototipagem.

Além de ser um processo mais rápido que o fabrico por subtração (para peças de elevada complexidade), o fabrico aditivo é também mais ecológico, na medida em que reduz significativamente o desperdício de material face ao processo convencional, reduz a energia consumida para o fabrico (utiliza menos material e reduz o número de etapas do processo produtivo), e permite às empresas reduzir os seus níveis de stock físicos, transformando-os em 'stocks virtuais' com a possibilidade de produzir qualquer peça em qualquer momento.

Ora, até aqui, uma das maiores limitações tecnológicas era exatamente o tamanho das peças que podiam ser produzidas por este método. A tecnologia TLM foi um passo disruptivo para ultrapassar essa barreira. De uma forma escalável, potencia o fabrico de peças muito maiores do que qualquer outro equipamento de fusão em cama de pó, enquanto garante todas as vantagens já enumeradas. Sendo esta uma característica única da tecnologia da Adira, abre naturalmente toda uma panóplia de aplicações que ainda estão por explorar.

A tecnologia TLM permite o fabrico aditivo de peças muito maiores do que qualquer outro equipamento de fusão em cama de pó...
A tecnologia TLM permite o fabrico aditivo de peças muito maiores do que qualquer outro equipamento de fusão em cama de pó.

A que setores se destina?

Maioritariamente a setores com produtos de alto valor acrescentado, isto porque é, naturalmente, uma tecnologia que supõe ainda um nível de investimento elevado, mas com oportunidades únicas de otimizar esses produtos. O setor espacial e os setores das energias são os que têm maior potencial num curto e médio prazo, porque estão menos regulados e a aceitação de uma nova tecnologia de fabrico é mais ágil. Os setores da aviação e automóvel, especialmente para alta-competição, têm também um elevado potencial, mas a qualificação do produto é ainda um desafio, pela falta de normalização para os processos aditivos. O setor dos moldes e ferramentas é outro com especial interesse na tecnologia, isto porque, por exemplo, se podem criar canais conformais complexos nos moldes e postiços e assim reduzir drasticamente tempos de ciclo.

E quais são os principais mercados-alvo?

Estrategicamente, nesta fase inicial estamos muito focados no mercado europeu embora o mercado dos EUA seja igualmente atrativo. Temos tido requisições e contactos de todo o o mundo.

Em Portugal, há procura deste tipo de equipamento?

O mercado nacional é ainda reduzido, embora existam entidades com interesse e capacidade em abraçar a tecnologia. Temos alguns parceiros ao nível nacional com quem desenvolvemos projetos específicos que têm contribuído também para desenvolver esta tecnologia. O projeto Add.additive é um exemplo de uma iniciativa em curso, em que os resultados começam a ser visíveis. A Adira tem bastante orgulho em liderar este projeto com outros 22 parceiros nacionais, todos focados essencialmente na mobilização da indústria portuguesa para o fabrico aditivo.

Já venderam alguma máquina?

Durante o próprio período de desenvolvimento da tecnologia foram criados protótipos que estiveram a ser utilizados em clientes ‘Beta’. Houve sempre interesse comercial e foram feitos alguns negócios pelo interesse destes clientes em serem 'early adopters'. A versão comercial da máquina só ficou disponível muito recentemente. Estamos, de momento, a terminar a construção de uma máquina nova e posso adiantar que temos já uma série de potenciais interessados.

Qual é a vossa expectativa de crescimento nesta área de negócio?

É um mercado em forte expansão, com projeções de crescimento de 20% ao ano nos próximos 5 anos. Esperamos crescer a um ritmo igual ou superior ao do mercado.

A Adira é conhecida, a nível internacional, por um tipo de maquinaria mais tradicional: as quinadoras e guilhotinas para corte de chapa. Como têm evoluído estes equipamentos em termos de tecnologia instalada e de adequação às premissas da indústria 4.0?

Essa é sem dúvida a área mais 'core' da Adira, com um histórico pelo qual somos reconhecidos. É importante relembrar que, apesar do fabrico de máquinas de processamento de chapa ser direcionado para uma indústria mais tradicional, não deixam de existir constantes evoluções tecnológicas e inovação. Automatização, células robotizadas, realidade aumentada, sistemas CAD/CAM, entre outros, são já uma realidade na Adira, e onde temos aplicações e experiência demonstrada.

É um mercado onde existem muitos 'players' e a Adira distingue-se pela capacidade de oferecer soluções integradas e pela qualidade dos seus equipamentos e serviços.

Estão previstas novidades nesta área?

A adaptação do portefólio de equipamentos da Adira e do seu parque industrial à indústria 4.0 está no nosso ‘roadmap’. Temos estado a desenvolver soluções interessantes com parceiros estratégicos e podemos certamente esperar novidades para curto e médio prazo.

Vista aérea da fábrica da Adira em Vila nova de Gaia
Vista aérea da fábrica da Adira em Vila nova de Gaia.

Muitas empresas nacionais ganham notoriedade internacional pela flexibilidade no fabrico de equipamentos à medida. Também é o caso da Adira?

Temos um parceiro que recentemente nos intitulou de ‘alfaiate da chapa metálica’. Isto acontece pela nossa capacidade de adaptação à evolução da tecnologia e à destreza que temos em integrá-la de forma exímia nos nossos produtos. Esta integração, associada ao desenvolvimento de soluções customizadas e inovadoras para os nossos clientes, cria valor para ambas as partes.

Qual é o peso das exportações na atividade da empresa?

O peso das exportações tem-se mantido constante nos últimos anos, tipicamente acima de 70%.

E quais os principais setores cliente?

A maquinaria para processamento de chapa tem aplicações muito diversas, desde a indústria aeronáutica ou automóvel à refrigeração ou mobiliário metálico. Temos clientes em todos os setores.

Os vossos equipamentos são totalmente fabricados em Portugal?

Todos os nossos equipamentos são fabricados e montados em Portugal. Temos vários fornecedores nacionais e, naturalmente, outros internacionais.

Finalmente, como antevê o futuro da Adira a médio-longo prazo?

A Adira está a posicionar-se no mercado do fabrico aditivo, que está em forte expansão. Com a AddCreator estamos a criar o nosso nicho nesse mercado e tudo indica que isto vá potenciar uma expansão da Adira a médio-longo prazo.

No produto core das máquinas-ferramentas para o processamento de chapa, a digitalização e conectividade das máquinas são fundamentais para se desenvolver as fábricas do futuro, e a correta integração da tecnologia pode ser um 'game-changer'.

O fabrico das máquinas especiais continuará sem dúvida a fazer parte do que fazemos porque é algo que está no nosso ADN e do qual nos orgulhamos: o foco no cliente e o desenvolvimento de soluções inovadoras à sua medida.

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