Marcel Puig Ripoll, CEO e cofundador do centro de fabricação aditiva Producto3D
24/01/2019Imagine que pode comprar um produto exatamente como quer, com a funcionalidade de que precisa e o design de que mais gosta, pelo mesmo preço e com o mesmo prazo de entrega de um produto fabricado de forma massiva.
Terá chegado o momento de desaprender e mudar o paradigma?
Inquéritos realizados a empresários revelam que uma das suas maiores preocupações está relacionada com as novas propostas de valor externo - que vêm principalmente do campo da tecnologia - que afetam ou afetarão as suas empresas. Ou seja, novos concorrentes com novas propostas de valor que, embora menores, mas muito mais flexíveis, enfrentam os líderes do setor. Os consumidores percebem e começam a preferir este novo paradigma.
Muitos de nós assistimos à forma como a Internet mudou as nossas vidas e a indústria. Basta recordar a mudança que produziu, por exemplo, no setor da música ou nas editoras de livros, tanto a nível do utilizador como da indústria. Antes, um autor tinha de convencer uma grande editora a publicar a sua obra. Como não era conhecido nem famoso, as portas eram-lhe fechadas e ele não podia levar a sua obra até aos seus potenciais clientes. Com a Internet desapareceram os intermediários e o autor conseguiu finalmente colocar o seu trabalho no mercado.
No início do século XXI, uma análise do genoma humano custava uma fortuna. Hoje, esta análise custa cerca de 100€. Esta queda drástica nos preços fez com que as empresas que integravam esta cadeia de valor se desmembrassem. A Internet voltou a ‘desintermediar’.
Também se fala da ‘Globalização’: trata-se de um processo, na medida em que opera uma profunda força transformadora no nosso sistema de organização. Todas as empresas precisam de uma estratégia e essa estratégia requer conhecer o ambiente em que opera.
Será que chegou o momento de desaprender e
No entanto, se analisarmos a contribuição da Internet, ela basicamente trouxe uma nova forma de vender. Também forneceu controlo, informação, realidade virtual ou simulação em processos de produção, colaborando na sua otimização e redução de erros. De certa forma - se assim se pode dizer - "fez relativamente pouco pela produtividade nas fábricas".
O aumento da produtividade esteve sempre associado a fatores como o trabalho, o capital e a tecnologia aplicados à produtividade.
Os grandes crescimentos na produção sempre vieram de grandes revoluções na fabricação.
Em termos gerais, nada foi feito pela produtividade desde a última revolução. As fábricas foram transferidas para o exterior para reduzir custos. Foram montadas fábricas maiores e mais especializadas para garantir melhor produtividade, fator que, por seu lado, introduziu muita rigidez no processo produtivo.
Os números da produtividade global têm vindo a diminuir.
Se pensarmos em unir tecnologia: Internet + tecnologia de fabricação... Podemos criar uma nova revolução na fabricação?
Esta é uma revolução excitante: significa produzir melhor, produzir com inteligência, personalizar produtos e fabricá-los perto de onde está o utilizador final. Não só aumentará a produtividade, mas também a flexibilidade.
Para mencionar alguns dos tópicos abordados pela Indústria 4.0 no que diz respeito a sistemas ciber-físicos:
Basicamente, um robô pode ser programado para que não perca tempo na preparação do processo e a tecnologia AM pode fabricar um (1) ou muitos produtos. Não será necessário procurar lugares recônditos para obter baixos custos, o produto será fabricado localmente. As fábricas serão menores, mas mais ágeis. Não importa o tamanho da fábrica, mas sim a flexibilidade. Voltar-se-á a fabricar à medida. Os fluxos de mercadorias serão locais, o modelo atual é ineficiente. A pegada de carbono será reduzida, portanto, o processo de fabrico será mais ecológico.
Trabalharemos ‘Just in Time’. Ocorre a alguém a ideia de acumular stock de produtos personalizados?
Os custos de produção serão iguais em qualquer lugar do planeta.
Se usarmos a imaginação e dermos um salto para o futuro, que não está tão distante assim, teremos de imaginar que, se quisermos vender o nosso produto a um cliente na Austrália, por exemplo um par de ténis ou uma peça sobressalente para uma máquina, vamos enviar-lhe não o produto, mas sim um ficheiro digital, para que ele o possa fabricar numa impressora 3D.
Isto tem repercussões como: "Se eu vender o calçado desportivo (num arquivo digital), nunca mais vou repetir a venda! O comprador vai poder fabricar o produto quantas vezes quiser. Além disso, também não vou vender entre o seu círculo de família e amigos".
Trata-se de um caso de diretos de autor, para o qual a ‘Blockchain’ pode ter muito a contribuir, uma vez que, na sua essência, fala da venda de originais e não de cópias. Por enquanto, a primeira abordagem é fazer com que o produto seja fabricado num centro de fabricação aditiva profissional. Já existem alguns, por exemplo, o 'Global Manufacturing Network' (GMN) liderado pela Stratasys.
"As mudanças sempre existiram, a diferença é a velocidade com que chegam".
1. Analisar o catálogo de peças e serviços com critérios económicos. Normalmente começa-se pelo o critério económico, já que esta tecnologia permite uma redução de custos. É necessário realizar uma análise de custo do sistema tradicional em comparação com esta nova tecnologia AM, além do tempo de ciclo de fabrico.
2. Analisar a viabilidade de fabrico utilizando a tecnologia AM. Algumas empresas aplicam os seus próprios critérios como a precisão das peças, o ambiente onde a peça estará em termos de resistência química, temperatura ou vibrações, e analisam a sua viabilidade para aplicar a tecnologia AM. À medida que nos aventuramos em possíveis aplicações, abrem-se novas possibilidades.
3. Repensar as peças existentes no seu catálogo. Uma vez por dentro das características e benefícios desta tecnologia, descobrimos novas aplicações e novas abordagens em soluções, aplicações e diferentes propostas de valor de produtos ou serviços. Podemos reduzir o número de componentes, diminuir o peso, bem como jogar com densidades de material na mesma peça.
4. Novo modelo de negócio. Repensar os nossos produtos levar-nos-á a novas soluções e a perceber que seremos capazes de cumprir amplamente com tudo o descrito e aconselhado pela Indústria 4.0. Lembre-se de algumas características deste conceito, como a fábrica inteligente, fabricar o produto perto do nosso consumidor/cliente, com segurança e sem custos ocultos, e produção 'Just in Time' que, no limite, elimina custos de stock e permite a personalização dos nossos produtos. Permitir-nos-á também o ‘coworking’ na sua máxima expressão, desde o ‘codesign’ até ao ‘comanufacturing’. Um exemplo de ‘comanufacturing’ é o caso de um artista que compôs o seu trabalho com centenas de peças, todas diferentes e numeradas. Ele fez um apelo pela internet para que voluntários de todo o mundo pudessem fabricar voluntariamente uma das peças e, em poucos dias, terminou de montar o seu trabalho.
Temos de pensar em novas propostas de valor e novos modelos de negócio.
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