OPINIÃO 14 O metal entre a luz e a sombra Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP Conforme começa a ser cada vez mais do conhecimento público, as empresas pertencentes ao setor metalúrgico e metalomecânico português, que habitualmente são designadas de forma genérica como o Metal Portugal, têm sido fundamentais para o crescimento económico do país ao longo dos últimos 20 anos. Durante esse período, Portugal, a Europa e mesmo o mundo em geral foram fortemente afetados por sobressaltos económicos e financeiros de enorme dimensão, como foram os casos, sucessivamente, da crise do sub-prime, da intervenção da troika nos países do sul da Europa, da pandemia, do encerramento do Canal do Suez, dos problemas de abastecimento da indústria automóvel ou da questão dos semicondutores. Não obstante, a generalidade dos segmentos do Metal Portugal enfrentou com resiliência e sucesso todos esses obstáculos, constrangimentos e dificuldades, contribuindo com a sua competência e capacidade empreendedora para sucessivos recordes de crescimento de exportações e de criação de postos de trabalho crescentemente qualificados. Mais ainda, em alguns daqueles momentos acima referidos, a capacidade de exportar e gerar emprego das empresas metalúrgicas e metalomecânicas foi absolutamente decisiva para ajudar o país e o povo português a resistirem. Atualmente, a Europa atravessa novamente um momento difícil, com crises de diferentes características em algumas das suas principais economias. A Alemanha tem vindo a assistir quase impotente a um verdadeiro tsunami de insolvências nas áreas da construção, imobiliário e automóvel. França tem as suas contas públicas no limiar da catástrofe ao mesmo tempo em que se vê incapaz de reformar um estado obeso e ineficiente e de pacificar as tensões sociais internas. O Reino Unido não só pondera a possibilidade de pedir uma intervenção do FMI no sentido de o salvar de um ‘default’, como está assolado pelo aumento galopante da insegurança e criminalidade. Espanha está completamente descredibilizada pela manutenção em funções de um governo com evidências claras de corrupção, nepotismo e de cumplicidade com o terrorismo. Por outro lado, o novo governo dos Estados Unidos da América, onde havia uma presença crescente das empresas do Metal Portugal, criou barreiras que dificultam fortemente a entrada no mercado de produtos europeus e compromete também de algum modo os investimentos portugueses no México, os quais, naturalmente, tinham e têm também em vista as possibilidades oferecidas pelo grande vizinho do norte. Como se tudo isto fosse pouco, a Europa está neste momento perturbada por duas guerras às suas portas ou mesmo no seu interior. No médio-oriente, a guerra entre Israel e grupos terroristas apoiados pelo Irão tem vindo a prolongar-se há mais de dois anos. É verdade que foi recentemente outorgado um acordo de paz entre Israel e o Hamas, mas também é certo de que todos temos a noção da enorme fragilidade de que tal acordo se reveste. É muito previsível que haja recaídas e regresso aos combates.
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