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Flexcraft: o avião flexível que quer mudar o futuro da mobilidade aérea

Entrevista Ana Clara | Jornalista24/03/2020

Com apenas 13 metros de comprimento e com baixos níveis de consumo, o Flexcraft foi criado para voos autónomos ou semi-assistidos e foi concebido de uma forma modular, permitindo a utilização de uma só asa autónoma com diferentes cabines. Nesta entrevista, José Rui Marcelino, designer manager do projeto, e em representação da Almadesign, fala desta inovação com carimbo português.

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O Instalador: Fale-me um pouco de como começou o projeto Flexcraft e dos seus resultados finais já apresentados publicamente.

José Rui Marcelino: a mobilidade aérea está a sofrer uma revolução, impulsionada por novas tecnologias, novos conceitos de mobilidade e imperativos para uma maior sustentabilidade. O Flexcraft surge da necessidade de aprofundar um dos conceitos de aeronaves gerados pelo anterior projeto newFACE, desenvolvido entre 2011 e 2014, pelo mesmo consórcio de empresas, em que foram propostos novos conceitos de aeronaves para 2030. As linhas de investigação do projeto são - Voo e Operação, Usabilidade e Flexibilidade, Materiais e Processos – com o objetivo de dar resposta a diferentes missões civis, nomedamente: transporte comercial de passageiros e carga; apoio a atividades de proteção civil; vigilância, agricultura, entre outros. No dia 28 de janeiro o projeto foi apresentado publicamente, no Instituto Superior Técnico em Lisboa, e foi possivel visitar/experienciar a mock up à escala real da fuselagem que se destaca pelo design exterior elegante e inovador, com um interior refinado na distribuição e geometria dos equipamentos, nos materiais, revestimentos e na iluminação. A configuração “táxi”, com 5 bancos de passageiros, foi complementada por uma experiência de realidade virtual (VR), que permitiu aos visitantes entrar numa cabine “executiva” ou sentarem-se no lugar do tripulante de uma cabine de “busca e salvamento”. Foram também apresentados o modelo demonstrador de um novo processo produtivo (uma peça de asa), assim como modelos à escala (1/10) do modelo VRP (Veículo Remotamente Pilotado) para a realização de ensaios de voo e os 3 PODS para as diferentes missões de voo.

José Rui Marcelino
José Rui Marcelino

Que necessidades práticas este projeto satisfaz?

O projeto tem como objetivo dar resposta a diferentes missões civis, nomedamente: transporte comercial de passageiros e carga; apoio a atividades de proteção civil; vigilância, agricultura, entre outros. Com este projeto pretendeu-se validar uma aeronave que dê resposta a estas missões, com capacidade STOL (Short Take-Off and Landing) transportar até 1000Kg e um alcance de 400Km. Procurou-se definir as melhores configurações de aeronaves, desenvolver novos processos de produção, integrar novos materiais, de forma a criar uma solução sustentável, eficiente, flexível e adaptável ao tipo de missão solicitada.

Que tecnologias foram aplicadas e com que objetivo?

Seguindo as 3 linhas de investigação, o projeto desenvolveu um aeromodelo (veículo remotamente pilotado – VRP), que pretende validar os novos conceitos de Voo e Operação, uma mock up à escala real com experiência VR que pretendeu estudar a Usabilidade e Flexibilidade de configurações e um demonstrador de processos de fabrico em material compósito one-shot, com o objetivo de propor novas formas de produção de componentes aeronáuticas como asas e aeroestruturas.

Há no projeto desta aeronave uma enorme componente de inovação. Em que medida é que há neste caso uma espécie de "revolução" no campo aeronáutico?

O Flexcraft pretende responder a diferentes necessidades e mercados, desde serviços de logística, missões de busca e salvamento, transporte de passageiros em trajetos urbanos e suburbanos, entre outros. O projeto é realmente inovador porque propõem uma aeronave desenhada para voo autónomo ou semi-assistido, concebido de forma modular – separando a asa da fuselagem - que lhe permite a utilização de uma mesma asa autónoma com diferentes cabines (pods/fuselagens) para diferentes missões. Tem a capacidade de operação em pistas muito curtas, o que melhora o seu desempenho global, aumentando a flexibilidade e disponibilidade de operação. Não existem no mercado soluções com esta modularidade e flexibilidade de operação. A separação entre o módulo asa do módulo fuselagem é um grande desafio técnico, mas potencialmente uma revolução no setor.
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De que forma pode este projeto contribuir para o crescimento - e mais-valia - do mercado nacional da aviação?

Logo à partida, os projetos de investigação promovem a troca de conhecimento entre os parceiros, desenvolvem novas competências técnicas e lançam novos caminhos tecnológicos. Por outro lado, os novos conceitos de mobilidade aérea urbana e interurbana – integrando cada vez mais soluções de voo autónomo e sistemas de propulsão sustentáveis – têm conhecido um desenvolvimento enorme em todo o mundo nos últimos cinco anos. É fundamental que Portugal “não perca o avião” e se mantenha a par dos principais players internacionais, enquanto um fornecedor que pretende subir na cadeia de valor da indústria aeronáutica. Este caminho percorre-se propondo soluções cada vez mais integradas e desenvolvendo competências para participação em projetos semelhantes. Por fim, os novos sistemas de mobilidade apresentam maiores oportunidades de entrada de novos players, com experiência em outras áreas dos transportes, do que os sistemas convencionais, o que é mais uma oportunidade para o ecossistema empresarial e de investigação nacional.

Sei que o projeto é financiado pelo Portugal 2020. Explique-me o funcionamento e o consórcio criado para o projeto (que contributos deram cada um dos elementos do mesmo).

O projeto é financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização através Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Resulta de um consórcio do qual faz parte a Almadesign, responsável pelo design do serviço e das cabines e sua visualização em VR, a SET.SA, como lider de projeto foi responsável pela protótipagem da mock up à escala real, o INEGI responsável pelos demonstradores de processos de produção, o IST (Instituto Superior Técnico) responsável projeto aeronáutico e modelo VRP, e a Embraer Portugal SA a OEM responsável pela definiçao do contexto de operção, pelo apoio à definição dos requisitos do utilizador, pelo desenvolvimento conjunto dos novos processos de fabrico e pela validação das soluções e demonstradores.
É fundamental que Portugal “não perca o avião” e se mantenha a par dos principais players internacionais, enquanto um fornecedor que pretende subir na cadeia de valor da indústria aeronáutica

Em termos práticos, como será aplicado o Flexcraft?

Na fase atual, os objetivos do projeto não preveem a construção de um produto comercializável. No entanto, os próximos passos, têm já em vista a aproximação das soluções desenvolvidas a uma futura comercialização ou aplicação em futuros produtos.O envolvimento crescente de outros parceiros e áreas de desenvolvimento irá conduzir a soluções de crescente maturidade tecnológica, cada vez mais proxima do mercado e da inovação. Os protótipos gerados pretendem também demonstrar a viabilidade dos conceitos e lançar novas linhas de investigação na área da mobilidade aérea sustentável, “mobility as a service” e novos processos produtivos com reduzida pegada ambiental. Por isso, existe já o interesse em levar o projeto e as soluções criadas para soluções próximas da comercialização e existem também alguns clientes interessados em algumas das soluções apresentadas, que têm migrado para outros projetos. A título de exemplo, um dos objetivos do projeto foi o teste de novos processos industriais para a produção de componentes que reduzem a complexidade e são mais sustentáveis. Estes processos serão muito úteis numa fase de industrialização.

O projeto

O Flexcraft - Flexible Aircraft - é uma aeronave que conjuga a ideia de modularidade, permitindo uma reconfiguração da cabine para diferentes missões (comerciais e de lazer, de socorro e auxílio, entre outras) com a capacidade STOL e que visa competir com soluções de asa rotativa, através de uma operação em pistas curtas, melhorando o desempenho global.

O Flexcraft nasceu do projeto newFace e do conceito Utility com o objetivo de elevar de forma integrada as tecnologias críticas deste conceito – configuração, soluções de flexibilidade e processos de produção e materiais.

Voo e Operação, Versatilidade e Usabilidade e Materiais e Processos de Produção são as três linhas de desenvolvimento do projeto que serão validadas através de três demonstradores evolutivos, nomeadamente, com um veículo pilotado remotamente, uma mock-up à escala real e demonstradores de materiais e processos de produção.

Objetivos Estratégicos:

  • Garantir que o conceito cumpre com os requisitos técnicos e funcionais de Voo e Operação
  • Garantir o caráter de usabilidade e versatilidade do conceito (desenvolvimento do interior e exterior da aeronave)
  • Desenvolver novos processos de produção/tecnologias eco-eficientes (tecnologias viabilizadoras de baixo custo de fabrico) e integração de novos materiais
  • Desenvolvimento de gabaritos, moldes e ferramentas, necessários à concretização/validação do conceito
  • Integração de ferramentas computacionais para permitir a modelação/simulação dos processos de fabrico, da arquitetura de sistemas e outros, capazes de satisfazer os requisitos de missão e operação
  • Potenciar o desenvolvimento de novo conhecimento e aquisição de novas competências às entidades envolvidas, contribuindo para a competitividade das mesmas no mercado aeronáutico
  • Implementação de um programa de investigação e desenvolvimento aeronáutico integrado que contribua para o desenvolvimento do setor em Portugal (e reconhecimento do mesmo), de forma a constituir valor acrescentado no mercado nacional e internacional.
    Saiba mais sobre o projeto aqui: http://flexcraft.pt/pt/consorcio/.
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